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Maria João Bahia

Ser empreendedora – uma escalada

Estamos nos anos oitenta quando Maria João  faz a sua escolha profissional. Tinha 22 anos na altura.

Chegou a frequentar o curso de Direito  em  simultâneo com o de desenho na Escola Superior de Belas Artes, mas a sua apetência para as Artes falou mais alto. “Já fazia alguns adereços e acabei por me dedicar à ourivesaria”, relembra. Decisão que acarretou com a maior determinação talhando objetivos muito precisos pressupondo passos e degraus de escalada inevitável.

E foi assim que Maria joão Bahia, criadora de jóias na atualidade, se viu aprendiz de ourives!

O que gostava mesmo era da execução. Ambicionava  fazer os objetos mas com outra interpretação, de uma forma diferente, como eu imaginava, pelo que tive que conhecer as limitações técnicas, saber como eram feitos para poder reinventá-los”, recorda. Começou por estar numa oficina em Lisboa e depois noutra, no Porto, onde aprendiu toda a técnica tradicional, conservadora,  das grandes peças em prata. De regresso a Lisboa, trabalhou numa ourivesaria durante 3 anos. Na altura, a tendência era copiar os modelos de grandes marcas e joalheiros de renome estrangeiros. “Era assim o mercado: fazia-se o que era solicitado pelos Clientes. Limitávamo-nos a copiar à mão aquelas peças que o Cliente nos trazia duma fotografia ou dum modelo comprado no estrangeiro”

Saber aproveitar as oportunidades 

Inverter essa tendência fazendo vingar a sua criatividade como autora de jóias não parecia tarefa simples. “ Tinha determinação, vontade, sabia exatamente o que queria e objetivos muito claros na minha cabeça. Mas não tinha um tostão. Não tinha por onde começar e não era fácil ir a uma instituição financeira. Não existiam as entidades de venture capital ou as figuras de  business angels” comenta. Valeu-lhe um amigo dos pais, o seu “business angel”, que lhe emprestou o dinheiro inicial para arrancar e valeu-lhe essa convicção inabalável no próprio projeto, a sua paixão que serviu como única garantia ao investimento! Conseguiu assim ficar com o trespasse de uma oficina na baixa lisboeta, um segundo andar na R. da Madalena que passou a arrendar.

Denotando uma visão pro-ativa, criou e registou de imediato a marca Maria João Bahia em todas as áreas onde queria trabalhar no futuro, mas que só começou a usar, mais tarde, quando vendeu as primeiras peças. Antes disso, aponta, havia outro degrau a subir: “Eu sabia que tinha que começar por executar os trabalhos mais chatos para poder integrar o mercado, para me dar a conhecer como especialista no meio”, explica. Na sua oficina, fazia os arranjos para outras ourivesarias de Lisboa, era o meu sustento: tira a pedra alarga o anel, aperta o anel. Era a forma de ganhar dinheiro para pagar a renda e me dedicar àquilo que realmente me apaixonava: o trabalho criativo. Apareceram os primeiros clientes:  amigos, amigos de amigos e foi uma bola de neve que foi crescendo. E deixei de trabalhar para outras lojas. Cheguei, ainda, a ter convites apelativos para trabalhar com empresas do Norte que preservavam  a mentalidade de que o que era de fora é que era bom. É claro que recusei. Não era o que eu tinha traçado para o meu percurso neste setor”. 

As dores do cresimento

A continuação do seu percurso fez-se, antes, com a readaptação da sua oficina, valorizando-a com um escritório e sala de atendimento, com o reinvestimento contínuo dos proveitos na empresa, com a participação em feiras, algumas  organizadas pelo ICEP, e com exposições em galerias que contactava, em vários países. Logo em 1987, no seguimento da sua presença numa feira em Nova Iorque, angariou trabalho para uma marca nos Estados Unidos, o que foi um passo importante no reconhecimento internacional do trabalho realizado em Portugal num setor que nunca apostara na criatividade nacional.

Mas os desafios continuavam, sem poder financiar a contratação duma agência de comunicação ou investir em publicidade, a empreendedora-criativa teve que pôr o chapéu de empreendedora-gestora e marketeer!  “Fiz muitas entrevistas, tive clientes públicos e mediáticos e fiz, por minha iniciativa, várias campanhas com bancos promovendo a venda exclusiva aos seus clientes, de faqueiros, coleções, marcadores de mesa...” Tudo isso foi importantissimo na divulgação e projeção da marca, prova disso são os vários troféus e prémios que entretanto concebeu: Unicer, Imperio, Unibanco, Universidade Católica, a imagem de Portugal em 1988 , na Europália, os Globos de Ouro da SIC TV.  Para além das encomendas privadas, Maria João conseguiu, assim, ir abrindo o mercado em vários segmentos, no sector empresarial e insititucional, que começaram a representar um peso cada vez maior no volume de negócios, “na altura, até havia o nicho dos presentes de Natal para empresas que inicialmente foi um investimento da minha parte, mas que mais tarde foi um grande contributo para as receitas da empresa!” Reforça.

 “Há certas situações que foram complicadas nesta fase de desenvolvimento”, salienta. Mãe de três rapazes, a autora sempre procurou um equilíbrio entre a sua carreira e a vida profissional e conta-nos como o conseguiu: “os meus filhos andavam numa escola que terminava à hora do almoço, assim arranjei uma sala na oficina e eles ficavam comigo à tarde. E então, no fim do dia regressávamos juntos a casa. Às vezes tinha que ir a reuniões e levava-os. Acontecia, … é um bocadinho de loucura, de aventurismo, é descomplicar. As pessoas ficavam tão desarmadas ao ver-me com o filho ao colo que…não tinha outra maneira e foi assim que fui conseguindo esse balanço.”  Recorda sorrindo.

Outra questão importante neste período foi a gestão das múltiplas tarefas e o crescimento necessário da equipa. “Para fazer uma jóia, por exemplo, tinha que ir à Casa da Moeda e fazer outras deslocações. Cedo tive que arranjar uma pessoa que me ajudasse como secretária e fizesse este tipo de recados”. Depois procurou  reunir-se dos oficiais de ourivesaria certos: que tivessem a mesma perceção do produto e falassem a mesma linguagem - fator essencial numa relação criativa.  Hoje,  reconhece ter com eles um entendimento único e enfatiza o papel que representam no seu sucesso como autora de jóias.  É que a acompanham no seu percurso há 18 anos!

Contas feitas, constituem atualmente a equipa: 3 elementos na oficina, 2 no secretariado e organização e 1 no atendimento.

A área da gestão, continua no seu pelouro “Até agora tenho sido criativa e empresária. Continuo a fazer tudo porque este negócio tem muitas particularidades”, justifica. Desta dicotomia, confessa, “o mais difícil é gerir os dois pesos: estar a funcionar na parte criativa e depois na área de gestão.”

O pequeno teste para o grande salto

Enquanto teve a oficina na R. da Madalena, a ourivesaria Portugal era a única loja onde Maria João vendia as suas peças mas isso originava alguns problemas porque não as fazia em série e era difcil replicá-las quando solicitado. Paralelamente, criou  linhas específicas com a Atlantis e tudo isso levou-a a considerar que era altura de ter uma loja própria.

“ Diferentemente das outras lojas, eu queria na loja só  criações minhas, mas não sabia se iria funcionar. É complicado ter uma loja mono-marca, especialmente quando ainda não se tem o reconhecimento internacional. Tem que se batalhar no mercado duma forma diferente para ser aceite. A maioria das lojas tem relógios ou peças de marcas internacionais para captar os Clientes”, refere.

Cautelosamente, abriu uma loja pequena no Hotel D. Pedro durante 6 ou 7 anos e manteve o ateliê. Foi o seu teste ao mercado para confirmar a sua implantação. Apesar de não ter a visibilidade da rua, correu bem e deu lhe forças para o grande passo seguinte: abrir uma loja na melhor avenida de Lisboa.

Em 2003, depois de umas negociações que duraram dois anos, adquiriu o prédio na frondosa Av Liberdade e deixou definitivamente a R. da Madalena. “Por mais incrível que vos possa parecer é o predio que eu adorava, por ele passava inúmeras vezes em miúda, na altura do 25 de Abril e ficava fascinada com as suas montras cheias de pins”, revela.  

A partir daí tudo mudou e a marca ganhou ainda maior projeção. A  situação privilegiada da loja de amplas montras, na avenida mais trendy do país atrai Clientes de outros continentes,  traduzindo uma melhoria local do negócio e abrindo portas à sua divulgação internacional, o grande desafio a seguir.

Somam pontos exposições recentes no Brasil, Luanda, China. Para o futuro, a implantação da marca além-fronteiras está equacionada. Antecede-lhe novo teste de mercado, como estratégia. Previstas, ainda, mais exposições e a abertura de outros espaços comerciais de conceito distinto. Ficamos a aguardar.

Oa principais desafios do percurso

Questionada sobre as maiores dificuldade enfrentadas Maria João destaca, em primeiro lugar, no início, o facto de ser mulher. “O sector da ouriversaria é um mundo de homens e sentia-me uma intrusa. Mas, depois, isso veio a tornar-se uma vantagem em determinados momentos porque não me consideravam uma ameaça.” Outra dificuldade acrescida no início da sua carreira foi o facto de não ter tradição familiar no ramo. “ Este é  um negócio muito tradicionalista e familiar onde eu não tinha ligação nenhuma. Era como se eu tivesse que abrir um túnel enorme para entrar num mundo que era só deles. “

Sobre as características que a fizeram vencer num meio aparentemente hostil comenta: “Acho que o mercado estava recetivo a novidades. Sentia-me muito segura da minha capacidade criativa. Investi em aprender “o métier” e arrisquei. Sou muito intuitiva e tinha a certeza, o que me ajudou a convencer as pessoas a minha volta. A abrir portas. Sou ainda muito determinada, objetiva e persistente e essas caracteristicas ajudaram-me como empreendedora e dona do meu negócio”

Também tive sorte ”continua, mas há que saber reconhecer a sorte, agradecer a sorte e retribuir a sorte”.

Realça ainda a capacidade de saber escutar, no seu caso o atendimento aos Clientes tem sido fundamental  “ouvem-se histórias incríveis que me fizeram mudar muito a minha maneira de ver, de fazer... e que tiveram impacto na minha atitude perante a vida, perante os negócios e que determinou o meu percurso como empreendedora mas também como pessoa ”.

Conselhos às empreendedoras

Maria João acredita que num empreendedor há uma parte sensitiva que se tem ou não e que é difícil potenciar unicamente através da formação e do desenvolvimento de competências. A sua maior recomendação: acreditar nas nossas próprias capacidades e qualidades como empreendedoras como ponto de partida. Depois: valorizar uma atitude muito positiva e persistente. Ter auto confiança e apresentar-se ao mercado, aos Clientes, com determinação e convicção. Ter muito claro para onde se quer ir e não desviar-se do caminho, manter o rumo e reinvestir constantemente.

No seu caso pessoal confessa: “A verdadeira satisfação não advém do dinheiro que se ganha mas sim de ver o negócio concretizar-se, prosperar, conseguir o reconhecimento do mercado e poder continuar a dedicar-me àquilo que é a minha paixão: o design e criação de jóias. O que gosto mesmo é de estar na oficina!” conclui.

 

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