Cosméticos à base de café. A inovação que fez a Kapeh florescer.

Ser apaixonada por cosméticos foi só o inicio da trajetória que levou essa mineira de 36 anos a seguir o caminho empreendedor.

Movida por essa paixão, Vanessa Vilela se tornou farmacêutica e bioquímica e começou a trabalhar em farmácias de manipulação enquanto fazia cursos de cosmetologia nos finais de semana. Afinal, seus olhos estavam voltados para a criação de sua empresa.

Como suas raízes estão na região cafeeira do sul de Minas Gerais, Vanessa começou a estudar as propriedades do café e junto com alguns institutos de pesquisa e universidades comprovou as qualidades cosméticas do fruto.

“O grãozinho verde, antes do processo de torra, tem uma altíssima concentração de substâncias anti-oxidantes, como os ácidos clorogênicos,  que combatem os radicais livres causadores do envelhecimento da nossa pele.”, conta Vanessa.

Além dos anti-oxidantes, os estudos mostraram que o grão verde possui uma elevada concentração de cafeína, que é um ativo já usado na indústria cosmética em produtos contra a celulite, por exemplo, pois estimula a queima de gordura e a redução de medidas. É também um agente promissor  em tratamentos contra a queda de cabelo pois ativa a circulação sanguínea. E também potencializa a ação do filtro solar pois a presença de flavonóides melhoram a proteção natural da pele. 

Com um investimento inicial de R$300 mil (cerca de 98,6 mil Euros) usados principalmente no desenvolvimento dos produtos e em publicidade e comunicação, a  Kapeh (palavra da língua maia para café), se lançou no mercado com 7 itens diferentes.

Hoje esse mix chega a mais de 100 produtos, incluindo, sabonetes, hidratantes, cremes para o corpo, esfoliantes, xampus e até colônias feitas com a flor do café.  

Em 3 anos, a empresa atingiu o break-even e só nos últimos 4 anos teve um crescimento superior a 300%, empregando cerca de 150 colaboradores diretos e indiretos.

Os produtos da Kapeh estão presentes em mais de 300 pontos de venda multimarcas, inclusive cafeterias, em 18 Estados brasileiros. A Kapeh também já possui algumas lojas próprias e está abrindo franquias. “Estamos atualmente nesse processo de expansão”,  explica Vanessa

“Sonhar grande ou sonhar pequeno dá o mesmo trabalho. Então vamos sonhar grande. “

Com esta frase Vanessa Vilela define um dos fatores decisivos para ter sucesso como empreendedor. E, no caso dela, o ambiente familiar foi o que mais a influenciou. “Meus pais sempre me passaram muita auto-confiança e a importância de você batalhar pelas suas coisas, ter sua independência. Então eu fui criada num ambiente que me estimulou muito a sonhar, acreditar no meu sonho e ir em busca da sua realização.” 

E para realizar e ter sucesso nessa iniciativa, Vanessa destaca como fatores principais:

• A identificação com o negócio, amar o que faz e fazer com prazer “essa paixão, o brilho nos olhos, é fundamental”, diz ela.

• A persistência é outro fator chave. Em suas palavras “Não é fácil começar um negócio do zero. No meu caso, por exemplo, comecei com a cara e a coragem, num segmento dominado por gigantes. Então, se você não tiver muita persistência e determinação, você não sai do lugar. E ainda hoje, depois de 7 anos, tenho de matar um leão por dia!”

• Acreditar que você vai conseguir superar as barreiras e os desafios.

O sucesso não é só dinheiro.

Na visão de Vanessa o dinheiro é uma conseqüência de todo um trabalho, feito com dedicação e persistência.

“Para mim, o sucesso é muito mais uma questão de reconhecimento”

Neste item realmente a empreendedora Vanessa Vilela é muito bem sucedida. Em 2010 foi finalista do Empretec Women in Business Award, prêmio promovido pela ONU, ficando entre as 10 melhores empreendedoras do mundo.

No ano seguinte a Kapeh recebeu o Prêmio Nacional de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Movimento Brasil Competitivo (MBC). E em 2012 Vanessa foi nomeada Young Global Leader pelo World Economic Fórum.

Além de todo esse reconhecimento, a empresária tem recebido um amplo destaque nos media, tendo sido, inclusive, capa da revista Veja em matéria sobre as empresas mais promissoras do país.

“Tudo isso e o feedback das pessoas, jovens, empreendedores que falam que sou uma inspiração para eles. Para mim é o que realmente tem valor. Mostra que estou no caminho certo”, afirma a empreendedora.

O papel do aprendizado

Por possuir uma formação bastante técnica, desde o início da Kapeh, Vanessa procurou fazer cursos de capacitação em gestão empresarial. “Para estar à frente de uma empresa você precisa dominar toda essa parte”.

Outro ponto que ela considera muito importante são as parcerias e redes de contato. O SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) foi um dos primeiros parceiros através  de cursos e programas. A Kapeh é também ligada à Endeavor e foi selecionada para participar do Programa SAP Expoentes, uma parceria da Endeavor com a SAP para apoiar empreendedores emergentes com recursos como mentores, orientações de negócios e tecnologia.

“Além dos mentores que têm sido muito importantes para me orientar na condução da Kapeh, formei também uma rede de contatos muito bacana”, conta Vanessa.

Esta rede veio da sua participação nos encontros do Young Global Leaders e do Women’s Fórum na França onde faz parte de um grupo de 40 mulheres. E também da participação nos Fóruns do João Dória que estimulam muito o empreendedorismo.

Os desafios não param.

Mesmo depois de superar o desafio inicial de começar um negócio em um mercado extremamente competitivo, a cada passo dado surgem novas barreiras.

“Se você vai exportar, por exemplo, precisa se conhecer tudo sobre esse novo mercado, todas as particularidades sanitárias, regulatórias e adequar a empresa e os produtos a elas. Agora a Kapeh está iniciando o processo de franchising que também tem suas particularidades e peculiaridades. “, conta Vanessa.  

Sustentabilidade tem lugar de destaque.

Independente do tamanho, a empresa precisa ser responsável pelo impacto social e ambiental que causa.“Adotamos este princípio desde o primeiro dia, procurando aplicar o conceito de sustentabilidade em toda a nossa cadeia produtiva”

O café utilizado nos produtos tem a certificação Utz Certified, sendo totalmente orgânico e cultivado de forma a preservar a fauna e a flora da região.

O mesmo princípio se aplica também ao desenvolvimento dos produtos. As embalagens são recicláveis ou de origem reciclada. E a empresa adota a prática da coleta de embalagens pós-consumo. Nas lojas próprias a cada 6 embalagens entregues o cliente ganha um novo produto.  

Reconhecida e premiada também em função de suas ações pela sustentabilidade, Vanessa já ministrou palestra na ONU falando sobre empreendedorismo verde, ganhou o prêmio José Costa da Fundação Dom Cabral e Diário do Comercio como empresa que mais contribui para o desenvolvimento sustentável do Estado e atualmente participa de um programa da FGV com outras 12 empresas que adotam a sustentabilidade com visão para o mercado externo. 

Apostas para o futuro.

Além da abertura de franquias, a Kapeh também esta se preparando para voltar a exportar.

“Em 2009 começamos a exportar para Portugal e Holanda, mas em função da crise européia os negócios não foram adiante. Mas agora queremos voltar com mais força pois sabemos que nossos produtos tem um potencial muito grande no mercado externo por utilizarmos um produto tipicamente brasileiro”,conta ela.    

Como ter um negócio de sucesso

Para quem está começando a empreender, Vanessa coloca a inovação como o principal ponto de partida. É preciso analisar muito bem o mercado, a concorrência e definir as vantagens competitivas do nosso negócio. 

O sucesso, depende muito também das características do empreendedor que está à frente do negócio. “Você tem de ser um exemplo, uma inspiração para seus colaboradores”.

E novamente ela coloca como parte dessas características, a paixão e a persistência, acrescentando a importância do conhecimento e qualificação, além de foco e objetividade.  

Empreender no feminino

“Acredito que o Brasil é um pais muito aberto ao empreendedorismo feminino. Eu mesma nunca senti nenhum tipo de restrição por ser mulher. É verdade que estar atuando no universo  de produtos cosméticos também ajuda”, considera ela.

Sua convicção é de que a pessoa tem de conquistar seu espaço por competência. “A mulher já venceu muitas barreiras e hoje em dia provou que é competente e que tem um olhar que complementa o olhar masculino na gestão da empresa”.