Rita Nabeiro - Adega Mayor
“Se me perguntassem há dez anos atrás se eu iria estar envolvida num negócio de vinhos que era praticamente inexistente quando eu estava a estudar, eu diria que era pouco provável.” Tudo ocorreu de uma forma muito natural e à medida que me fui envolvendo, fui dando um cunho cada vez mais pessoal, criando a minha equipa. Eu sou da opinião de que não devemos aprender e fazer nada sozinhos e isso parte de reunir uma boa equipa. Tem sido esse o caminho para desenvolver este negócio. “ A postura face à concorrência, os trunfos face a um mercado competitivo de vocação e legado secular Sobre os fundamentos da criação da Adega Mayor, Rita aponta a filosofia e forma de estar do avô. ”Em Campo Maior havia uma tradição vinícola então adormecida, o seu ressurgimento tem subjacente trazer mais valia para a região posicionando-a como atração turística, cria mais postos de trabalho, gera valor.” Num mercado altamente fragmentado e competitivo como é o dos vinhos que reúne mais de um milhar de marcas, a aposta do grupo foi, então, defender um projeto pro-ativo inovador e alternativo, único, não descurando a qualidade da oferta. Desde logo, o destaque feito à singularidade do terroir que abençoa as castas “uma herdade com uma área total de 350 hectares destacando-se na região pela relevância do seu património natural. Uma área de montado de azinho bem caracterizada à qual se aliam a vinha e o olival desenham esta paisagem alentejana. O elevado número de azinheiras com mais de 100 anos, as galerias ribeirinhas que permitem uma boa disponibilidade de água e a proximidade com áreas de paisagem protegida constituem focos de interesse pela biodiversidade que encerram”. Lê-se na própria comunicação, no site da empresa. Depois, dentro de um conceito algo disruptivo em Portugal, o convite dirigido ao conceituado arquiteto Siza Vieira para assinar o edifício torna esta adega um marco a nível internacional, tendo já sido incluída em exposições como a do MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque), colocando Portugal na rota das adegas internacionais - “a warehouse que é moderna, a contemporaneidade a nível do vinho”. “Mas o enfoque é sempre o produto”, garante a gestora. Há medida que os anos vão passando as distinções nacionais e internacionais vão sedimentando e reconhecendo a qualidade ímpar da oferta e o expertise da Adega Mayor na produção de vinhos únicos - “Aliás, o prémio ganho, em prova cega, com o vinho Garrafeira do Comendador de 2003 constituiu, por si, um dos empurrões para a sua criação”, recorda. Com destaque recentíssimo, o Monte Mayor Reserva Tinto 2012 (prémio excelência) e Monte Mayor Branco 2013 (prémio região) no concurso Uva D`Ouro, que se destina a premiar a excelência dos vinhos nacionais. Além da aposta na investigação, também a criação de edições especiais ajudou a posicionar a marca, ressalva Rita Nabeiro. “A proximidade ao consumidor, ligar o vinho à história mas à nossa história já que não temos um legado, ligar o vinho a um universo que nos é mais próximo, criar esse engagement, é esse o mindset. Não numa postura de arrogância, mas estamos a fazer o nosso caminho. Como iniciativas, a edição de homenagem a Siza Vieira (“levamos quase tanto tempo a desenvolvê-la como Siza a Adega!”), a de Vitorino, Janita Salomé, as wine talks com musica - visando associar o vinho à música, explicando-o através da música. “Nos vinhos o que custa são os primeiros 200 anos!!” No que respeita aos principais desafios como gestora, Rita confessa: “Estamos a aprender todos os dias. Embora a minha formação não seja em gestão estou em formação contínua. Hoje em dia, a atualização é essencial. O meu avô começou com a quarta classe mas os tempos e o mercado eram diferentes.” Para Rita, o trabalho de gestão é essencialmente gerir pessoas “podemos ter o melhor curso mas se não o soubermos fazer não progredimos. Temos que ter essa garra, essa dinâmica. Ter, ainda, a capacidade de apontar novos caminhos e neste campo, a minha formação tem-me ajudado a avançar de outra forma. A área artística dá elasticidade e potencia a inovação e emoções e o vinho é também um produto emocional.” Rita salienta que nem sempre o facto de termos um grande grupo por trás é sinal de termos sempre recursos. Para suprir essa dificuldade, reforça o papel da criatividade que “aqui, passa por fazer mais com menos” Rita privilegia uma estratégia da comunicação integrada. “É um lado meu um bocadinho mais forte”, confessa. “Falo sempre na equipa porque não conseguimos fazer nada sozinhos. Com o tempo fui-me rodeando das pessoas certas. Essencialmente temos a equipa para nos dizer o que temos que fazer. Ao final do dia, quero sentir-me tranquila porque sabem mais do que eu e tomam a decisão correta. Nós mulheres gostamos sempre de estar a par das coisas, e eu gosto de acompanhar sem limitar o trabalho. À medida em que se cria uma engrenagem, gera-se uma cumplicidade, já sabemos o “tom” da marca, tudo o resto é mais fácil!” Toda esta sua aprendizagem não foi só na componente de gestão mas também na dos vinhos, desenvolvendo formação e experiencia no culto da prova, em fazer blends… A opinião da administradora é valorizada na hora da seleção e Rita valoriza este envolvimento na produção. Os desafios de uma empresa veiculada a um grupo A integração, da “terceira geração” nas empresas da família aconteceu de uma forma natural trazendo uma dinâmica de orientação para a modernização. O ciclo de maior crescimento da Adega Mayor foi há cerca de dois anos. O facto de a marca ter já uma estrutura montada alicerçada na Delta Cafés “tem coisas boas e coisas menos boas”. E Rita especifica: “São dois projetos distintos. Há semelhança de um petroleiro e um veleiro, por vezes há coisas que são mais difíceis e lentas de manejar do que o aspirado, dispor de uma estrutura grande é bom mas há aspetos que podem fugir ao controlo e a mentalidade nem sempre é comum.” A marca partilha a mesma equipa comercial e isso tem-se revelado um desafio. “Não é só a empresa de distribuição de café passar para o mainset desta com novos clientes. Temos que saber potenciar as pessoas, puxá-las, cativá-las.” Por outro lado, como aspeto positivo desta conexão, “há as mais valia e sinergias do grupo mesmo a nível nacional e internacional (que desenvolve já parte do trabalho)”, aponta. Um negócio de detalhes, de emoções e de relações - REPENSAR O NEGOCIO Para Rita uma visão de 360º em qualquer negócio é sempre importante e no dos vinhos ainda mais já que possui tantas nuances. Num mercado pulverizado, repleto de marcas tudo conta. Vender uma garrafa de vinho torna-se extremamente trabalhoso. Para suprir estas dificuldades e as decorrentes de uma força de vendas partilhada, a gestora formou pessoas específicas para acompanhar os outros elementos, criando a figura de embaixador de vinhos, gestor de área que não existia. A postura privilegiada é a orientação ao cliente “perceber o que o cliente quer”. Para este, a procura de um bom produto mas igualmente de um bom parceiro, tem neste negócio uma validade crucial. “Aquela relação com o cliente, entrega o vinho e vai-se embora não funciona, é preciso que o comercial procure conhecer a empresa para que possa dar-lhe sugestões como consultor.” Ainda sobre a relevância do papel do comercial, adianta. “Optámos por castas portuguesas, privilegiando tudo o que é a nossa história pois é isso que irá fazer a diferença quando vamos lá para fora, é isso que nos diferencia. Claro que, para o vendedor, dá muito mais trabalho estar a explicar o que é uma casta touriga nacional, do que outra estrangeira de renome. E aí já estamos a falar dum trabalho de educação e num mercado internacional.” “Há cada vez mais mulheres não só em enologia mas também na liderança e isso faz a diferença” Para Rita as equipas são quanto melhores quanto mais disciplinares. Mas acredita que o crescimento tendencial da presença feminina poderá vir a trazer qualquer coisa de diferente seja na área comercial, gestão, enologia…”até porque se diz que o olfato das mulheres é mais apurado! A mulher tem essas competências, basta que lhe sejam dadas as oportunidades. Estou certa que quando as agarra, faz um trabalho excecional. Não sou feminista nesse aspeto, mas sinto que ainda não estão a ser criadas muitas oportunidades. E isso é de facto uma barreira”. Rita tem contribuído para uma alteração neste sentido, na empresa . “Tem ajudado o facto de eu ser mulher e ser da família. Em muitas reuniões de direção do grupo, a maioria dos presentes são homens, e mesmo havendo essa referência masculina, esta situação está a mudar aos poucos e poucos. Dizem que tenho uma equipa de mulheres, mas de facto é porque nas entrevistas foram as candidatas que me apareceram com mais garra.” “Será que eu mereço estar aqui? Esta é uma questão que me coloco todos os dias." Gerir uma empresa da família poderá ser uma situação delicada no que respeita ao tratamento de fracassos e sucessos, à manutenção do equilíbrio entre vida familiar e trabalho e à isenção na análise e nas atitudes. Rita procura “separar as coisas”, criar algum distanciamento entre os negócios e o campo pessoal embora sinta que inevitavelmente viva essa relação de forma diferente. “Quero pensar que um dia estou cá e noutro posso não estar. A minha experiência de trabalhar para fora foi para mim, também para sedimentar o meu valor. Às vezes as pessoas têm a tendência em colocar o nosso apelido à frente do nosso nome. Mas eu acho que em primeiro lugar sou a Rita, ser Rita Nabeiro por si só não me diz nada. É importante que eu saiba que estou a trabalhar independentemente de ser da família e de hoje para amanhã o que eu espero é ter a lucidez para saber que devo deixar o cargo se for o caso”. Sobre a sua postura neste sentido, refere: “Eu quero estar sempre independente. Fazer bem o meu trabalho, dar o máximo, apostar no meu futuro" A este propósito, reforça as atitudes que promove e que aconselha enquanto gestora: “É questão de estruturar a base, ter uma equipa que tenha boas competências, ter braços direitos, esquerdos, profissionalizar e apontar o caminho. Temos que ser nós a apontar o caminho e dar o exemplo. "Trabalhar, temos que estar sempre a semear, por um lado, a equipa, por outro, os clientes e o network.” Aponta, ainda a importância de ter pessoas a quem pedir conselhos. “Às vezes, há fases dolorosas: soluções e resultados que demoram a aparecer, certas questões que são difíceis de partilhar com a equipa. A sugestão que deixo é quando se tem dúvidas questionar.” E realça: “Portugal não tem a cultura do erro e da falha: Aprender com o erro, não penalizar, levantar e seguir em frente. As mulheres, são mais honestas em admitir a falha e as dúvidas. Quando as partilhamos também há esta identidade. Tenho várias pessoas a quem recorrer. Há pessoas que admiro e como figuras femininas a Sandra Correia e a Conceição Zagalo.” Rita refere, ainda, a importância de ter alguém que além de conselheiro, nos alerte, nos dê um incentivo e nos diga: “estás a fazer um bom trabalho! Estás no bom caminho!” No caso de Rita , é particularmente importante que esta motivação exista - “eu acho sempre que sou muito incrédula e que posso fazer um melhor trabalho. Exigente e perfecionista também. Estou sempre a querer melhorar, o que é desgastante mas também é importante”. E que possa recorrer, para além da família e dentro da empresa, a alguém de fora que admire e a inspire. E remata “O aconselhamento deve existir, mas a decisão final deve ser sempre nossa”. Para existir um mentor é necessário “haver tempo e uma grande empatia”. O seu, é o avô, do qual destaca as qualidades que mais admira. Umas segue como role model “É detentor de uma grande energia, garra e determinação mas ao mesmo tempo de um coração enorme. Um aspeto que ele passa e espero poder preservar e canalizar para o grupo. Nem todas as empresas conseguem ter um discurso de, por vezes, penalizar resultados mas poder ter mais alguém! Essa cultura de proximidade dentro da hierarquia da empresa, essa abertura ao diálogo, o saber escutar. É próprio de um líder". Uma grande tranquilidade, sabedoria, a maturidade adquirida ao longo dos anos transmitidas são outros dos traços apontados. “Em alturas de dúvidas e problemas, depois de tentar resolvê-los por mim, ele sempre com grande tranquilidade apresentava um caminho e uma solução. E descomplicava. Isso é também um ensinamento, uma lição. Temos que saber manter a calma para podermos encontrar a solução. Nas empresas há sempre essas situações. Mas também há o outro lado. Quando as coisas correm bem, haver lugar à celebração. E isso é um aspeto que ele soube sempre valorizar com a equipa, nada tem que ver com formação mas é essencial em gestão saber liderar e motivar as equipas. Ponto tão importante em equipas grandes como pequenas onde tanto o contágio negativo afeta como o positivo. E depois tem todo aquele lado humano de ajudar as pessoas…refletindo-se no próprio negocio. “ “Sou uma otimista …se calhar até demais! Mas não cega. Essa postura positiva dele também assumo e também a humana de tentar ajudar mesmo em situações pessoais. Todos os dias tem pessoas a bater à porta e pedir emprego. Como é que se pode ignorar isto? Se calhar podia…mas é difícil “. Para Rita, esta é também uma cultura de atitude “ de se querer fazer o bem”. “E onde está presente a inovação”, sublinha. O grupo é composto por cerca de 3000 pessoas, inclui 23 departamentos comerciais em Portugal e 17 em Espanha. Tem ainda presença directa no Brasil, França, Luxemburgo e Angola. Nasceu e cresceu agregado à realidade da raia contígua e estimulou o desenvolvimento da região. Com olhos no futuro e numa perspetiva de crescimento Rita especifica: a terra foi evoluindo e agora é preciso o passo seguinte, atrair pessoas com talento igualmente do exterior e passar para outro patamar. Esta cultura do grupo, as características do avô enquanto lider são apadrinhadas por Rita e o seu reconhecimento foi, aliás, um dos fatores que lhe fez “dar o click” e querer abraçar o projeto familiar. “As festas de natal estavam na minha memória. Simbolizavam numa Imagem difusa a cultura da empresa e a que fazia sentido era a que eu tinha aqui: o respeito pela equipa, pelas pessoas, a consciência de que somos seres individuais com características a valorizar e esse sentimento de família, a consciência que quando se está numa figura de liderança tem que se estar sempre em palco. As nossas ações positivas ou negativas acabam por ter sempre influência. Já tive momentos difíceis com decisões que temos que tomar. Essa é outra aprendizagem: quando estamos a liderar é para o bem e para o mal, as decisões difíceis têm que ser tomadas na altura certa, não vale a pena adiar. Como balanço final, Rita aponta… “Tenho-me rodeado de uma equipa coesa e tem se criado uma subcultura dentro da empresa que tem identificado e atraído pessoas dentro do grupo para trabalhar connosco e isso é gratificante. A própria comunicação divertida, muito própria e de certo modo positiva e divertida conduz a isso. A imagem atrativa e de modernidade da Adega, estimula essa empatia.” Nesta altura da entrevista, o cartaz afixado que foi protagonista à chegada sai do placard e desce sobre a mesa para melhor leitura e a gestora explica: “Numa dada reunião, pedi ajuda à equipa para criar os valores da Adega Mayor, mandei fazer este layout e na ultima, entreguei um a cada elemento”. Entre os vários lemas, estes: “Confiança e Transparência perante nós próprios e os clientes. Humildade e honestidade-estamos sempre a aprender. Superação. Abertura à novidade e mudança – temos uma mente inquieta e criativa, a inovação é uma atitude. Tudo, todos contam – e fazem a diferença”. Rita lê um, sorridente: “Temos que ser líderes na atitude e na imaginação”. Uma frase do meu avô. Eu costumo dizer que ele tem a cabeça mais jovem do que muitos jovens de 30 anos. Destaca-se como figura vanguardista, out of the box. Ele tem consciência que foi isso que o fez crescer. Para conhecer melhor a Adega Mayor, visite este link: http://www.youtube.com/user/CanalAdegaMayor
|